segunda-feira, 26 de outubro de 2015

017 - A preparação física e mental

Na minha cidade natal, Uberlândia, há um belo parque chamado Parque do Sabiá. Nele, fizeram uma pista de caminhada com cerca de cinco quilômetros, que passa ao lado de lagos, de um pequeno zoológico, debaixo de várias árvores. Há também equipamentos para alongamento, lanchonetes com água de coco e outras coisas do gênero. Sempre cheio, principalmente nos finais de tarde, o Parque do Sabiá me viu algumas poucas vezes por lá, para fazer a famosa caminhada em sua pista. Mas, meu problema foi sempre a distância, já que a pista segue em boa parte de seu percurso as extremidades do parque e os atalhos não são muito convenientes, quando existem. Assim, se você deixou o seu carro em uma ponta do parque e começou o giro pela pista, provavelmente terá que completar os cinco quilômetros para poder ver seu carro novamente.
            
Venhamos e convenhamos: cinco quilômetros são quase uma légua, não é mesmo? Meu passo tem aproximadamente 79 centímetros, o que significa ter que dar mais de 6.320 passos para completar o giro no Parque do Sabiá. Quando caminhava de forma veloz por lá, atingia a incrível marca de 4,8 km/h, sinal de que não conseguia terminar a volta em menos de uma hora. Por essas e outras razões, sempre gostei de caminhar por lá, mas fui poucas vezes porque achava o percurso longo. Para piorar, já disse que sou de uma família sem muita tendência para engordar. Além disso, meus avós e tios nunca foram de ter pressão alta ou problemas no coração. Uma avó morreu aos 85 anos, um avô aos 92 e outra avó já ultrapassava a marca de 87 anos quando eu e o Gustavo decidimos fazer a trilha do Monte Roraima. Nenhum deles, apesar de toda essa longevidade, foi de fazer muito exercício físico. Então, qual o meu estímulo?
            
Em Porto Velho, também há um espaço para caminhadas, agradável mas não tão charmoso quanto o Parque do Sabiá. É a avenida Jorge Teixeira, em um espaço que vai do aeroporto da cidade até determinado ponto da avenida de duas pistas, cerca de dois quilômetros e meio depois. Uma das pistas sempre é fechada no final das tardes e é por lá que o pessoal queima as suas gordurinhas.
            
Também já havia caminhado nessa pista, cuja distância era só um pouco menor do que a do Parque do Sabiá. A frequência nunca fora grande pelos motivos citados e também porque Porto Velho é uma cidade muito quente, com muita chuva. Então, se não chove no final do dia, faz calor demais. Um verdadeiro paraíso para quem precisa de uma desculpa para não fazer uma caminhada!
            
O problema é que a lista de materiais que recebemos no começo de março trazia dois avisos muito importantes, os quais reproduzo na íntegra:

* Para pessoas com pouco condicionamento físico, recomendamos caminhadas de 10 km pelo menos 03 vezes por semana, de preferência 60 dias antes da viagem. Se for possível, opte por terrenos acidentados, e melhor ainda se puder levar uma mochila com uns 5kgs, para já ir adaptando o corpo à realidade da trilha.
* Pessoas que estejam acima do peso ideal (10 a 15 kg) convêm uma entrevista antecipada com o guia para avaliação. Pessoas que tenham problemas nas articulações (principalmente joelhos), somente com autorização médica e após entrevista. Qualquer outro problema de saúde torna-se imprescindível avaliação médica.
           
Pronto, começou mal!

Dilema nº. 01: se eu, que tinha por mascote um gato gordo que só mexia o traseiro para encher ainda mais a pança, não animava andar cinco quilômetros no Parque no Sabiá ou em Porto Velho, em terreno praticamente plano, como faria para efetuar todo aquele treinamento? Façamos as contas: 4,5 semanas por mês x 10 km x 3 vezes por semana x 2 meses = 270 quilômetros! Ou, traduzindo em passos, 341.772 passos para alguém do meu tamanho! Caramba! Essa distância significava dar mais de cinquenta voltas inteiras no Parque do Sabiá, um número que eu sonhava percorrer em toda a minha vida, não em dois meses. Mas, os problemas não eram só esses...
            
Dilema nº. 02: onde arrumar um terreno acidentado em Porto Velho, cidade em plena planície amazônica, lugar onde pouca gente sabe para que lado é para baixo e que lado é para cima? Porto Velho simplesmente não tem morro, unzinho sequer! No centro da cidade até que existem duas quadras levemente acidentadas, mas muito de leve, em um local absolutamente inapropriado para ficar caminhando. Imagine a minha pessoa, com uma mochila nas costas, indo e voltando em dois quarteirões, em meio a lojas populares, camelôs e vendedores de doces caseiros, por mais de uma hora? Dez quilômetros significavam sair de uma esquina, andar até duas seguintes e voltar, repetindo o trajeto vinte e cinco vezes. No mínimo, eu seria taxado de louco, razão pela qual nem cheguei a cogitar aquela hipótese absurda.
            
Dilema nº. 03: minha velha mochila, a qual pretendia levar na trilha, só chegaria às minhas mãos vinda de Minas Gerais duas semanas antes da viagem. Como eu faria para carregar peso nas costas sem a minha mochila? Impossível. Além disso, mesmo caminhando em um lugar no qual todo mundo vai no final da tarde praticar atividades físicas, não deixaria de parecer um jeca com a mochila carregada nas costas, enquanto todo mundo caminhava como gente normal, sem peso algum. Solução: ainda a ser pensada.
            
Dilema nº. 04: eu tinha só quarenta dias pela frente, ou seja, teria que andar os 270 quilômetros em menos tempo ainda, totalizando pelo menos 6,75 quilômetros todos os dias. Todos os dias?! Eu não tinha tempo para isso, não tinha disposição, ânimo, companhia, a chuva não deixaria, o calor acabaria comigo, enfim, como fazer para completar o treinamento recomendado em tão pouco tempo?
            
Ainda bem que Deus é bom e nem toda desgraça cai sozinha na cabeça de um pobre coitado de uma vez só. Em relação às recomendações seguintes, eu estava imune: não estava acima do peso e não tinha problemas nas articulações. Pelo menos isso me serviria de consolo.

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