Mas, voltemos à vaca fria.
Esqueci de comprar a bendita da mochila por lá e, por isso mesmo, decidi usar a minha boa e velha mochilona da Trilhas & Rumos, adquirida no início de 1997, quando preparava minha viagem para a Europa. Naquela época, era uma mochila boa, espaçosa, que me garantiu uma viagem bacana por vários países, sem qualquer problema. Depois disso, eu ainda tinha usado a danada para uma viagem até Cuzco, no Peru, bem como para um passeio nos EUA, em 2000. Na sequência, essa mochila desceu ao submundo e por muito tempo não tive notícias dela, sabendo apenas que um dos meus irmãos a tinha usado e que ficara manchada de alguma coisa, talvez barro. Certa feita, eu a encontrei por acaso perdida em algum armário e a deixei no chão, sabe Deus com qual intenção. O certo é que meu gato a encontrou, deu uma cheirada, gostou do que viu e resolveu demarcar território, dando uma mijada bem dada em cima da pobre coitada. Se não estou enganado, mandei a mochila para a lavanderia depois disso, mas se tem uma coisa que não sai nesse mundo é a catinga de urina de gato. De volta da lavandeira, decidi não jogá-la fora e a guardei em algum canto.
Era hora de ressuscitar minha velha mochila, até mesmo porque vi o preço de algumas no Brasil e me assustei. Se eu tivesse pretensão de voltar a usar mochilas em viagens no curto ou médio prazo, talvez me animasse a colocar a mão no bolso. O problema era que eu não tinha qualquer intenção nesse sentido, sendo a ida ao Roraima minha última viagem com mochila nas costas em um tanto de anos, segundo meu pensamento, pois pensava em ingressar no rol dos papais em poucos meses. Bebês, como se sabe, exigem um pouquinho dos pais e impedem aventuras por algum tempo. Se não fosse só isso, eu também já sabia que a mochila iria ralar muito na trilha, estando sujeita a poeira, chuva e barro. Um modelo novinho, comprado na loja por uma fortuna, verteria lágrimas dos meus olhos caso sofresse os mesmos pesadelos da minha mochila anterior durante a caminhada, razão pela qual optei pela ressurreição, não pela renovação.
Encontrei meus pais em Brasília, ainda em março, e eles me entregaram a velha e sofrida mochila que estava em Uberlândia, para que eu pudesse voltar com ela para Porto Velho. Ao primeiro contato com minha antiga companheira, relembrei-me das tantas aventuras que havíamos vivido, bem como do tanto que a urina do sem vergonha do meu gato era resistente ao tempo. O troço estava fedendo pacas, parecendo podre! Quem conhece o cheiro sabe o que estou falando, é mais ou menos semelhante ao de uma goiaba bem madura, com a diferença que este último cheiro não te dá vontade de vomitar ou sair correndo.
Não era só isso: as manchas de barro causadas pelo meu irmão estavam lá e uma das alças abdominais estava quase totalmente descosturada. Ainda assim, entre a urina de gato e o escorpião no meu bolso, fiquei com a urina de gato. Embalei a velha mochila em um plástico, para não contaminar o resto da mala, e voltei com ela para Porto Velho. Chegando lá, procurei uma lavanderia que também tinha serviço de costura e mandei dar uma geral, embora desconfiasse que o mau cheiro continuaria lá mesmo depois de R$ 30,00 de despesas.
Três dias depois, peguei a minha mochila limpa e costurada, embora as manchas continuassem lá e o aroma de goiaba podre não tivesse sumido totalmente. Digamos que estava um pouco mais suportável, só isso. Mas, como eu não tinha escolha, o jeito era começar a ajeitar as coisas na minha velha companheira, quem sabe para a sua última viagem. Mal sabia eu quantas histórias aquela mochilinha ainda me daria durante a trilha...
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