segunda-feira, 30 de novembro de 2015

025 - Ainda a preparação para a viagem

Sei que essa história de preparação da mochila deve estar ficando cansativa, que o legal é passar logo para a trilha, mas preparar uma viagem pode ser muito bacana também. Aliás, tem gente que curte tanto a preparação quanto a viagem em si. Independentemente disso, a verdade é que uma aventura no meio do mato, longe de qualquer loja ou supermercado, demanda sempre muito cuidado com a bagagem, ainda mais quando a quantidade de coisas a serem carregadas deve ser bem pequena. Deve-se cuidar para não faltar o essencial nem passar o minimamente dispensável.
Da lista que recebi da agência, várias coisas foram supridas do meu guardarroupas mesmo. Nos EUA, comprei muita roupa adequada para caminhadas. Uma delas foi uma calça cheia de bolsos, com um zíper, que permite torná-la uma bermuda. Algo leve, de material dry fit. Essa seria a minha calça de todos os dias. Também resolvi levar uma calça da The North Face, mais resistente, que poderia me servir durante os períodos mais frios da trilha. Só duas calças, ponto final, nenhuma delas jeans, atendendo à recomendação da agência. 

Não quis levar bermuda ou short, a não ser a bermuda resultante da transformação daquela calça. Quanto às camisetas, escolhi uma para cada dia e mais duas de reserva, ou seja, oito peças, alternando entre modelos de algodão e dry fit. De manga comprida, apenas uma blusa/camiseta que deveria ser utilizada em festas e saídas de alto estilo, por conta da marca e do preço, mas que decidi colocar na mochila sorrateiramente, escondido da minha esposa que me mataria se me visse levando tal peça de roupa. A ideia dessa blusa era utilizá-la por baixo da jaqueta impermeável e por cima de uma camiseta, no caso de eu pegar chuva em um dia frio, mas não tão frio.

Também peguei uma cueca para cada dia da trilha, mais duas adicionais, uma para a ida e outra para a volta para casa. Comprei meias com cano um pouco mais alto, por conta da bota de cano alto. No total, oito pares. Quanto às blusas de frio, decidi levar duas da The North Face, marca que eu gosto muito. Uma delas tinha capuz e era leve, à prova de vento e chuva. A outra era bem macia, fofona, ideal para temperaturas mais baixas. Testei colocar a fofona por baixo e a impermeável por cima e deu certo. Peguei ainda um calção de banho, pois a higiene diária seria feita ao ar livre, em riachos, não sendo possível, pelo menos na minha imaginação, tomar banho pelado ou de cueca. Em relação à toalha, peguei uma simples, de algodão mesmo.
Não peguei lençol e, quanto ao travesseiro, decidi levar a minha surrada almofadinha que usava todas as noites entre as pernas para dormir de lado, tal e qual me ensinara aquela professora lá das aulas de alongamento em São Paulo. Não sabia ainda se a almofada seria promovida a travesseiro durante a trilha ou se eu arrumaria alguma outra coisa para segurar a cabeça, já que sem algo entre os joelhos eu não conseguiria dormir. Problemas para depois, pensei.
A capa de chuva foi uma novela. Na minha viagem de divulgação da Justiça itinerante, eu tinha comprado uma capa tipo poncho, daquelas que têm apenas uma abertura para a cabeça. Paguei R$ 18,00 no troço amarelão, que me protegeu da chuva, mas se rasgou facilmente no último dia de viagem. Indeciso em relação ao que levar, deixei para comprar a capa em Uberlândia, pois passaria por lá – por conta de um casamento – no mesmo final de semana em que iria para Boa Vista. 

Já o chapéu com aba, recomendado na minha lista, de início seria apenas um boné. Mas, com medo de que minhas orelhas fritassem debaixo do sol, decidi levar um chapéu de caubói que havia ganhado de uma amiga da Procuradoria da Fazenda Nacional, o qual fora usado apenas em uma pescaria, já que nunca fiz o tipo agroboy. O problema é que o danado, todo estiloso, de marca famosa (menos para mim, não iniciado nesses assuntos chapelares), não era feito para dobrar. Como transportar meu chapéu? Se eu o colocasse dentro da mochila, em cinco minutos ele ficaria parecido a um pano de prato retorcido. Levá-lo na cabeça em minha peregrinação por aeroportos não seria nada legal. Durante a trilha, se começasse a chover e eu tivesse que usar o capuz da blusa, teria que arrumar um lugar para pendurar o troço. Por essas e outras razões, acabei comprando um chapéu de pano mesmo em uma loja de artigos de pesca em Porto Velho, muito baratinho, pintado com cores camufladas, como as dos militares, e que poderia ser dobrado e redobrado dentro da minha mochila.
Também em uma loja de artigos de pesca, eu encontrei um repelente caro, mas cuja eficácia me foi garantida por um sujeito que estava lá e que parecia conhecer do assunto. Fiquei alguns instantes em dúvida. Morando há vários meses em Porto Velho, eu já tinha me acostumado um pouco aos mosquitos, um dos produtos mais genuínos de qualquer floresta tropical. Se um dia você for visitar a Amazônia, a não ser em algumas regiões específicas (como em alguns locais do Rio Negro), a sua existência será rodeada de insetos de todos os tipos, muitos deles fiéis seguidores do Conde Drácula. Como tem mosquito onde eu moro! Tantos que aos poucos fui me acostumando com eles, logo eu, que sempre achei Ilhabela e a famosa Praia dos Castelhanos lugares horrorosos por conta do excesso de insetos sanguinários... Aprendi a conviver com o inimigo, que em Porto Velho, assim como em muitos lugares da região, sempre pode estar na companhia de uma denguezinha, de uma febre amarela qualquer ou de uma gostosa malária.
Comprei o repelente. Já que as notícias davam conta de mosquitos infernais, principalmente no primeiro acampamento da trilha do Monte Roraima, eu iria para a guerra com um produto de primeira geração.
Em relação aos binóculos, até que vi um bonitão para comprar em Brasília, mas achei caro. A máquina fotográfica eu já tinha, assim como óculos de sol e uma excelente lanterna de led, daquelas que se prende na cabeça, permitindo ficar com as mãos livres. Além dessa liberdade, você ainda não precisa carregar um caminhão de pilhas, pois as luzes de led gastam pouca energia e uma pilhazinha te salva a vida durante um bom tempo. Já no quesito canivete, eu estava em apuros. Tinha um velho, enferrujado, que não prestava para mais nada. Por outro lado, pretendia ir para Boa Vista só com a minha mochila, sem despachá-la, para não ter problemas com eventual bagagem perdida. Só que, se eu não despachasse a minha mochila, não poderia levar o canivete, já que ele seria barrado na fiscalização do embarque. A solução seria comprar um em Boa Vista, onde certamente pagaria um preço maior e ainda me demandaria tempo na véspera da trilha. Por conta dessas ponderações, comprei um canivete multifuncional mesmo, em Porto Velho, daqueles que vêm até com colher, faca e garfo juntos. Made in China, claro, porque o fabricado na Suíça custava mais caro do que todos os talheres que existiam na minha casa.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

024 - A bota

Nos EUA, fiz a minha esposa me dar o atrasado presente de Natal que ela prometera: uma bota Timberland à prova d’água. Já estava de olho na trilha, embora a compra de tal bota fosse algo que eu desejava havia muito tempo, para substituir a botina mateira que eu usava nas minhas pescarias. Minha esposa sempre torcia o nariz para aquele troço horroroso, preto, parecendo uma bota ortopédica daquelas de antigamente, que os pais ameaçavam por na gente para curar pé chato. Só que era boa para as pescarias e aventuras no mato e isso me bastava, ou me bastou, até eu ter a oportunidade de ganhar uma bota moderna, chique, de uma marca famosa. Melhor ainda, custou menos da metade do preço que minha esposa pagaria no Brasil, onde os impostos, como eu vivo repetindo, são mais altos do que qualquer montanha neste planeta.
Tratei de usar a bota na minha preparação. O aviso da agência era claro quanto à necessidade delas serem pré-amaciadas. Colocar os pés em um calçado novo e partir para uma trilha longa é um dos maiores suicídios que alguém pode cometer, pois em pouquinho tempo bolhas gigantescas se formarão e seus pés estarão em frangalhos. Lá nos EUA mesmo eu já usei a bota. Depois, no Brasil, tratei de fazer as minhas caminhadas com ela e isso foi muito bom, porque em um dos dias de preparação ganhei uma bolha no dedão do pé esquerdo, sinal de que a bota ainda estava sendo formatada pelo pé. Aviso também, é claro, de que a utilização de duas meias sobrepostas durante a caminhada poderia ser não apenas um luxo, mas uma necessidade.
Enfim, no quesito bota eu estava bonito na foto, com uma dos melhores calçados que eu poderia escolher no planeta. Na minha imaginação, é claro, porque na trilha eu ainda ouviria coisa bem diferente sobre ela.

domingo, 15 de novembro de 2015

023 - Compras para a viagem

Durante a minha rápida estadia em Brasília, em março, fiz algumas compras para a viagem. Em primeiro lugar, comprei uma bermuda térmica, baseado na experiência da primeira caminhada que havia feito em Porto Velho, a primeira da preparação para a trilha.
Eu havia decidido a caminhar desde a minha casa até o aeroporto. Coloquei então um short de uma marca de esportes famosa, meus tênis e uma camiseta. No meio do caminho, senti que alguma coisa estava errada na parte interna das minhas coxas, bem em cima, perto da região genital. Não sabia se estava coçando, doendo ou só incomodando mesmo, mas também não quis parar para ver o que era. Quando cheguei em casa e aquele troço me doía uma barbaridade é que fui ver o quanto o safado do short havia me machucado com uma costura mal feita, que foi ralando minhas coxas por quase oito quilômetros. Naquele exato instante, pensei que estrago semelhante durante a trilha poderia me deixar ensangüentado e inutilizado, motivo pelo qual comprei uma caríssima bermuda térmica em Brasília, para colocar por baixo da calça. Custou tão caro, para os meus padrões de pão duro, que comprei só uma. Por que ter outra? Eu usaria cueca por baixo, minha esposa não viajaria comigo e, mau cheiro por mau cheiro, eu já tinha a catinga de urina da mochila, o que seria uma boa desculpa a dar para meu amigo Gustavo. Na pior das hipóteses, pensei comigo mesmo, deixaria a bermuda térmica dormindo do lado de fora da barraca que dividiria com o Gustavo, já que deixá-la de dentro significaria uma sacanagem sem precedentes.
Na mesma loja, comprei duas joelheiras, ou tensores para joelho, conforme recomendado pela agência. Ao longo do tempo, eu saberia se realmente essa compra tinha valido a pena ou não...
Por fim, adquiri na mesma loja um bastão para caminhadas, um Kailash Antishok. Paguei caro no danado, cerca de R$ 85,00. Mas, achei o bastão muito invocado, com diversos tipos de regulagem e um bom sistema de amortecimento. Nunca tinha usado algo assim, mas durante a subida do vulcão Villarrica, no Chile, a machadinha que nos deram auxiliou bastante a manter o equilíbrio, lembrança que me fez, após titubear durante alguns minutos, decidir pela aquisição do bastão.
Quanto ao saco de dormir, decidi alugar da agência mesmo, que já o tinha oferecido. Na minha casa em Porto Velho, qualquer objeto do tamanho de um saco de arroz ou maior que entrasse teria que pedir para outro do mesmo tamanho dar licença e procurar outra morada. Não que a casa fosse minúscula, mas não era suficiente para as tralhas que eu e a minha esposa tínhamos. Além disso, assim como não esperava usar mochila depois do Roraima, também não tinha pretensão de usar sacos de dormir, a menos que meu sonho de conhecer o parque Torres del Paine, no sul do Chile, se concretizasse antes da paternidade. Pelo sim, pelo não, fiquei com o aluguel, até porque o preço de um saco de dormir novo estava pela hora da morte, talvez até mais caro do que um caixão. Minha esposa é que não gostou daquela história, pois na opinião dela saco de dormir seria algo duradouro, que eu poderia guardar muitos anos. Não só isso: o alugado seria nojento, já vindo com mau cheiro e suor de outras pessoas. Argumentos inteligentes e plausíveis, mas que não convenceram o escorpião abrigado no meu bolso.
Interessante que o tal do isolante térmico eu comprei. De início, nem sabia o que era aquele troço. Ao vê-lo, em uma loja de Porto Velho mesmo, entendi: era um pedaço de borracha com forração de alumínio em um dos lados, para ser colocado dentro da barraca e sob o saco de dormir, de maneira a não deixar o frio do chão chegar até o corpo. Achei o troço barato, menos de R$ 40,00, e vi uma finalidade para ele: praticar ioga, pilates, alongamento ou qualquer doidice que eu viesse a inventar depois da trilha. Decisão tomada, mais um item riscado no check list.
Algo que não me chamou muito a atenção na lista da agência foi o tal do chinelo tipo papete. Outra novidade para meu vocabulário, pois nunca tinha ouvido essa palavra. Eu tinha uma boa e velha Havaiana, que subiria a montanha comigo com o maior prazer. Só era um pouquinho pesada, confesso, mas serviria. Pensando nisso, não cogitei em comprar o tal do chinelo, até que entrei em uma loja de calçados e, só por curiosidade, perguntei à vendedora o que era aquele troço que tinham me recomendado. Foi aí que descobri que era um chinelo com uma alça atrás, para prendê-lo um pouco acima do calcanhar, como uma sandália. Achei um que me chamou a atenção, relativamente feio e brega, mas melhor do que os demais por ali. Comprei. Minha esposa achou horroroso e minha compra havia sido por impulso, em desprezo à Havaiana, mas o cartão de crédito já tinha trabalhado e não tinha mais volta. A papete seria outro item que o futuro me diria de sua importância ou da idiotice de levá-la...
Quanto ao cantil, eu tinha dois, todos de plástico, com algum isolamento térmico bem vagabundo, mas presente. Resolvi que os dois iriam comigo até Boa Vista e, lá, eu decidiria quem não participaria da caminhada. Em relação às luvas, já tinha mandado trazer uma velha que ficara em Uberlândia, a qual chegou às minhas mãos junto com a mochila fedorenta. O mesmo aconteceu com a touca. Não sei por qual razão, nem sei como, eu tinha duas delas, do modelo utilizado pelos índios andinos. Coisinha bem feia, confesso, provavelmente comprada como souvenir em alguma das minhas idas à Cordilheira dos Andes, mas que agora seria ressuscitada para o desafio do Monte Roraima.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

022 - A mochila que renasceu das cinzas

Mas, voltemos à vaca fria.
Esqueci de comprar a bendita da mochila por lá e, por isso mesmo, decidi usar a minha boa e velha mochilona da Trilhas & Rumos, adquirida no início de 1997, quando preparava minha viagem para a Europa. Naquela época, era uma mochila boa, espaçosa, que me garantiu uma viagem bacana por vários países, sem qualquer problema. Depois disso, eu ainda tinha usado a danada para uma viagem até Cuzco, no Peru, bem como para um passeio nos EUA, em 2000. Na sequência, essa mochila desceu ao submundo e por muito tempo não tive notícias dela, sabendo apenas que um dos meus irmãos a tinha usado e que ficara manchada de alguma coisa, talvez barro. Certa feita, eu a encontrei por acaso perdida em algum armário e a deixei no chão, sabe Deus com qual intenção. O certo é que meu gato a encontrou, deu uma cheirada, gostou do que viu e resolveu demarcar território, dando uma mijada bem dada em cima da pobre coitada. Se não estou enganado, mandei a mochila para a lavanderia depois disso, mas se tem uma coisa que não sai nesse mundo é a catinga de urina de gato. De volta da lavandeira, decidi não jogá-la fora e a guardei em algum canto.
Era hora de ressuscitar minha velha mochila, até mesmo porque vi o preço de algumas no Brasil e me assustei. Se eu tivesse pretensão de voltar a usar mochilas em viagens no curto ou médio prazo, talvez me animasse a colocar a mão no bolso. O problema era que eu não tinha qualquer intenção nesse sentido, sendo a ida ao Roraima minha última viagem com mochila nas costas em um tanto de anos, segundo meu pensamento, pois pensava em ingressar no rol dos papais em poucos meses. Bebês, como se sabe, exigem um pouquinho dos pais e impedem aventuras por algum tempo. Se não fosse só isso, eu também já sabia que a mochila iria ralar muito na trilha, estando sujeita a poeira, chuva e barro. Um modelo novinho, comprado na loja por uma fortuna, verteria lágrimas dos meus olhos caso sofresse os mesmos pesadelos da minha mochila anterior durante a caminhada, razão pela qual optei pela ressurreição, não pela renovação.
Encontrei meus pais em Brasília, ainda em março, e eles me entregaram a velha e sofrida mochila que estava em Uberlândia, para que eu pudesse voltar com ela para Porto Velho. Ao primeiro contato com minha antiga companheira, relembrei-me das tantas aventuras que havíamos vivido, bem como do tanto que a urina do sem vergonha do meu gato era resistente ao tempo. O troço estava fedendo pacas, parecendo podre! Quem conhece o cheiro sabe o que estou falando, é mais ou menos semelhante ao de uma goiaba bem madura, com a diferença que este último cheiro não te dá vontade de vomitar ou sair correndo.
Não era só isso: as manchas de barro causadas pelo meu irmão estavam lá e uma das alças abdominais estava quase totalmente descosturada. Ainda assim, entre a urina de gato e o escorpião no meu bolso, fiquei com a urina de gato. Embalei a velha mochila em um plástico, para não contaminar o resto da mala, e voltei com ela para Porto Velho. Chegando lá, procurei uma lavanderia que também tinha serviço de costura e mandei dar uma geral, embora desconfiasse que o mau cheiro continuaria lá mesmo depois de R$ 30,00 de despesas.
Três dias depois, peguei a minha mochila limpa e costurada, embora as manchas continuassem lá e o aroma de goiaba podre não tivesse sumido totalmente. Digamos que estava um pouco mais suportável, só isso. Mas, como eu não tinha escolha, o jeito era começar a ajeitar as coisas na minha velha companheira, quem sabe para a sua última viagem. Mal sabia eu quantas histórias aquela mochilinha ainda me daria durante a trilha...

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

021 - Preparando as malas

Junto com a ficha de inscrição, recebi uma lista de itens que deveria levar na trilha:

1.        Bota de trekking (pré-amaciados);
2.        Par de chinelos tipo papete (para caminhada e descanso nos acampamentos);
3.        Mochila de 60 litros (dê preferência para mochilas de boa qualidade);
4.        Saco de dormir 0ºC;
5.        Isolante térmico;
6.        Cantil;
7.        Bastão para trekking (recomendável, porém não imprescindível);
8.        Roupas leves para as caminhadas (quem for alérgico a insetos e/ou plantas, levar camisetas de manga comprida);
9.        Calça comprida e agasalho (nunca jeans);
10.     Bermuda;
11.     Roupas de banho;
12.     Meias;
13.     Tensor para joelhos (importante);
14.     Jaqueta de frio ou ANORAC;
15.     Toalha (mais fina possível, que possa secar rápido);
16.     Lençol fino (opcional);
17.     Um pequeno travesseiro (recomendável, porém não imprescindível);
18.     Par de luvas (para uso à noite);
19.     Touca de lã;
20.     Capa de chuva tipo poncho – resistente (imprescindível);
21.     01 rolinho de barbante (às vezes quebra um super galho);
22.     Chapéu com aba (importante);
23.     Filtro solar (importantíssimo);
24.     Repelente de insetos;
25.     Canivete tipo suíço (não imprescindível);
26.     Óculos de sol (opcional);
27.     Binóculos (opcional);
28.     Medicamentos tomados regularmente;
29.     Lanterna pequena c/ jogos de pilhas reservas (alcalina);
30.     Máquina fotográfica e filme (opcional).
31.     05 sacos plásticos tamanho 100 litros (resistente) – não opte por sacos de lixo, eles rasgam muito facilmente. Estes sacos serão utilizados para embalar todas as roupas e utensílios que irão na mochila.

Não era apenas isso, pois tinha mais um parágrafo de recomendações:

        Xampu, escova/creme e fio dental, desodorante, sabonete, agulha, tesourinha, linha de costura, faixas tipo gaze, esparadrapo, batom ou manteiga de cacau, protetor solar, repelente de mosquitos, Bad-aid, relaxante muscular, creme hidratante para pele, pomada contra assaduras, vaselina para evitar bolhas, medicamentos de uso contínuo ou para primeiras necessidades (consulte sugestões), papel higiênico. Lembrar de trazer purificador de água (recomendável, porém, não imprescindível).

            
Pena que não li essa lista toda com calma, ao contrário do que sempre costumo fazer. Toda viagem mais demorada ou mais complexa que faço, elaboro antes um check list, às vezes tirado da internet e completado por mim mesmo, para ir montando a bagagem. É algo que me dá prazer, em um nível inversamente proporcional ou meu prazer de desmontar malas, as quais às vezes passam dias fechadas depois da viagem, à espera que minha esposa me socorra. De posse da lista, escolho um canto da casa, normalmente o sofá da sala de TV, para colocar lá toda a tralha, antes de ajeitá-la na mala.
           
Falando em mala, essa é uma das primeiras coisas a serem resolvidas em qualquer viagem. A recomendação da agência era clara: mochila de sessenta litros, de boa qualidade. Pensei em comprar uma na minha viagem aos EUA durante o carnaval daquele ano, dois meses antes de começar a trilha, mas não sei por qual motivo me esqueci. Por lá, as coisas custam cerca de um terço do preço no Brasil, algo ridículo e que só mostra o quanto a nossa tributação é massacrante e idiota. E olha que trabalhei oito anos na Receita Federal e mais três na Procuradoria da Fazenda Nacional, então eu sei do que estou falando!
            
Vou dar um exemplo. No começo de fevereiro de 2010, fiz aquela viagem de barco pelo Rio Madeira, você se lembra? Pois eu levei uma câmera antiga que tinha, uma Fuji Finepix 5100, com um zoom ótico bom de 10 vezes, mas com definição de apenas 4 mega pixel. As fotos ficaram lindas, pois a câmera era velha, mas de ótima qualidade. Só que quis fazer uma exposição posterior e precisei imprimir várias delas, não podendo imprimir em formatos grandes simplesmente porque a definição da câmera era pequena. Decidi então comprar uma máquina nova na minha viagem aos EUA, que seria utilizada também na caminhada do Monte Roraima. Depois de pesquisar, escolhi uma Canon PowerShot SX-20IS, uma bela máquina com resolução de 12.1 Mp e um zoom ótico (que é o que presta) de 20 vezes, bem potente. Comprei a belezura em Miami, na BrandSmart, pagando algo como R$ 720,00 com cartão de memória de 8Gb, suficiente para tirar uma pancada de fotos e ainda filmar um tanto bom de minutos, em alta definição, conforme especificações da câmera. Chegando no Brasil, consultei na internet o preço da mesma máquina, em várias lojas de grande porte, do mesmo nível daquela nos EUA. Preço: R$ 2.999,00. Isso mesmo: mais de quatro vezes o valor que eu paguei por lá. Traduzindo em miúdos, se minha intenção inicial fosse comprar a máquina aqui no Brasil, compensaria pegar o dinheiro, comprar uma passagem para os EUA, reservar hotel, viajar para lá, comprar a máquina e, conforme fosse, ainda daria para voltar com um trocado. Detalhe: a garantia da maioria desses produtos é de nível mundial, então não cola aquela história de que o melhor é comprar aqui, por conta da garantia.
            
Isso é triste, muito triste

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

020 - Iniciando a preparação física

Se eu já tinha tomado conhecimento de que não seria possível caminhar os 270 quilômetros em quarenta dias, por outro lado não dava para ficar totalmente parado. Quando eu passo vários dias sem caminhar ou me exercitar, o que não é tão raro, como já deu para perceber, a volta às atividades físicas traz uma coceira imensa nas minhas pernas. Uma vez, eu inventei de correr com dois amigos em Uberlândia, em um domingo de manhã, isso há alguns anos. A gente acordou cedo, coloquei meu tênis, calção, camiseta, boné, passei protetor solar, pus os óculos escuros e me senti o máximo. Era uma corridinha leve, coisa de oito quilômetros em um ritmo bem tranquilo. Caminhamos um pouquinho para aquecer, fizemos uns alongamentos simples e passamos a trotar pela avenida. Ah, não deu meio quilômetro e começou o formigamento nas pernas! Os dois iam na frente e eu lá atrás, sem saber se coçava a perna esquerda, a direita ou se procurava meu pulmão esbaforido em algum canto da sarjeta!
Isso sempre aconteceu comigo e acho que é devido a problemas de circulação. Como fico muito sentado e é de família ter algumas veias fora do tom, acho que isso faz com que me dê aquela piniqueira quando ponho as pernas para fazer atividades físicas, especialmente se for uma corridinha, ainda que leve. Quanto às caminhadas, se mantenho um ritmo muito tranquilo, mesmo depois de muito tempo sem fazer exercícios, as coceiras praticamente não aparecem.

Só que eu não queria arriscar. Já imaginou ficar para trás na trilha, como aconteceu naquela corrida em Uberlândia, por conta de coceiras? Já pensou coçar a canela a cada cinco metros, com uma mochila pesadíssima nas costas? Sem chance! Eu tinha que fazer umas caminhadas.
E fiz. Do começo de março ao começo de abril, fiz diversas caminhadas pela avenida Jorge Teixeira, em Porto Velho, todas elas com uma cismazinha idiota, mas que tinha que ser cumprida: entrar no pequeno aeroporto pela porta perto do desembarque, tomar um gole d’água no bebedouro e seguir até a área de check-in, depois dar um toquezinho com a mão no balcão da Gol e no da TAM, nas lojas de passagens dessas companhias. Nunca na vida fui de ter tiques, transtorno obsessivo-compulsivo ou coisas do gênero, mas aquele ritualzinho me ajudava a esquecer a dureza das caminhadas. Ia lá, dava um tapinha disfarçado nos balcões, já que não queria mostrar qualquer sinal de insanidade, depois dizia em pensamento às duas companhias que eu adorava viajar de avião e que a gente ainda iria ter muitas histórias felizes pela frente. Enfim, coisa de retardado mesmo, mas para superar minha tendência ao sedentarismo, valia qualquer coisa, por mais idiota que fosse.
Marcando a distância percorrida, um pedômetro na cintura. Para quem não conhece esse aparelhinho, ele é muito simples e, a cada passo que você dá, ele o conta. Você coloca lá a medida média do seu passo e, com base nessas duas informações, ele te dá a distância percorrida, a velocidade média, o número de passos e o gasto aproximado de calorias. Tudo aproximado mesmo, sem qualquer exatidão, mas suficiente para se ter uma boa noção do exercício praticado. Assim, pelos meus cálculos, eu devo ter caminhado durante cerca de trinta e cinco dias algo como setenta quilômetros no total, duas ou três vezes por semana.
Pode parecer bobagem, ainda mais vindo de mim, mas sabe que essas caminhadas foram boas para mim, mesmo não representando nem um terço do sugerido pela agência de viagens? Em primeiro lugar, logo depois das caminhadas iniciais, eu já tinha parado com aquela história de coceira. Minha circulação ficou tinindo de boa! Além disso, minhas pernas foram se acostumando com o movimento de vai e vem, além dos pés se adaptarem às botas.
Mas, e o treinamento com a mochila nas costas? Bem, eu tinha que fazer isso, ao menos uma vez. Cerca de uma semana antes da partida para Boa Vista, eu já estava com a mochila bem organizada, embora nem imaginasse o quanto ainda tiraria tudo lá de dentro para organizar novamente. Então, em um belo dia, pesei a danada e vi que já tinha oito quilos. Entrei então em um dilema: caminho com a mochila ou não caminho? E o mico que vou pagar? E a vergonha? Tive então uma brilhante ideia: ao invés de eu parar o carro na ponta da avenida voltada para o centro, onde começava o trecho de caminhadas, eu pararia na outra ponta, ou seja, no aeroporto. Tudo bem que teria que pagar três pilas, como dizem os gaúchos, para estacionar por lá, mas o universo de vantagens compensaria esse valor. Quem está no aeroporto não carrega bagagem? Então, eu não teria qualquer olhar indiscreto ao descer do carro no estacionamento e colocar uma mochila nas costas. Dali, teria só que disfarçar, o que não seria difícil, pois já era noite e o estacionamento não tinha a melhor iluminação do mundo, e pegar outro caminho que não o do embarque. Na sequência, eu teria que entrar na avenida e caminhar junto com todo mundo, o mesmo valendo para a volta. Como eu estava com calça comprida, a mesma que levaria na viagem, e minha bota, se alguém me visse poderia pensar não que eu era um maluco, mas que não tinha dinheiro para pegar um táxi vindo de casa ou voltando para o aeroporto...
Que se danasse também o pensamento dos outros! Nunca tinha ligado para isso mesmo, então não iria me preocupar ali. Simplesmente pus a mochila nas costas, depois de deixar o carro no estacionamento do aeroporto, e comecei a andar. Caminhei cerca de cinco quilômetros naquele dia, com oito quilos nas costas, e gostei do resultado. Não senti muitas dores, o peso apareceu para o corpo, mas não incomodou tanto, e no dia seguinte eu estava em um bom estado. Estava praticamente pronto para enfrentar o desafio mixuruca do Monte Roraima!
Dois dias depois, resolvi repetir a dose. Meu vizinho do condomínio, que já sabia que eu não era louco, aceitou caminhar comigo desde lá de casa até o aeroporto. Eu levaria a mochila, agora com dez quilos, para um percurso de mais ou menos sete quilômetros e meio. Fomos...
Nesse dia, aquela tática esperta de não pensar no lado ruim da coisa, para não perder o controle sobre a minha mente, começou a fraquejar. Eu caminhei metade do percurso que teria no primeiro dia da trilha, com uma mochila que ainda não estava no seu limite, sem a minha pochetona e sem máquina fotográfica, mas mesmo assim voltei com as costas quase arrebentadas. E olha que não peguei ladeira alguma... Não entendi o que aconteceu, mas acho que apenas dois quilos a mais fizeram um estrago monumental nas costas. Não que eu tenha me sentido atropelado por uma carreta carregada de cimento, mas não fiquei legal depois da caminhada e muito menos no dia seguinte. De toda sorte, aquela experiência foi muito válida, pois comprovou que um conselho inúmeras vezes recebido teria que ser colocado em prática de forma radical: levar o mínimo de coisas possível na mochila, o mínimo mesmo, quase abaixo do essencial.
Era o meu desafio.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

019 - Uma aventura ajuda a outra

Essa pequena aventura de um dia ajudou imensamente na minha preparação psicológica para a escalada do Monte Roraima. Em primeiro lugar, analisando o que acontecera no Chile, concluí que não se pode ficar pensando muito na parte ruim da caminhada. Se eu por algum momento tivesse sonhado lá em Pucón que seria tão árdua a subida do vulcão, que teria tantas cãibras e que voltaríamos complemente esgotados em relação à parte física, provavelmente eu teria desistido. Por que subir em um vulcão, sofrendo tanto, se eu estava em uma viagem de passeio, confortável, descansando de vários meses seguidos de trabalho?

Outra coisa que eu pensei foi em relação ao resultado da subida do vulcão. No final das contas, minha dor física e meu cansaço extremo passaram em dois ou três dias, mas eu voltei vivo de lá, inteirinho e as memórias que guardei nunca seriam apagados da minha mente. Nem sabia mais qual perna tinha sentido a cãibra forte, mas me lembrava perfeitamente da beleza das montanhas da Cordilheira, da emoção de sentar sobre o gelo acima das nuvens, da sensação estranha de ver de perto um vulcão cuspir lava, do prazer de descer de lá deslizando pela neve. Era isso que tinha ficado de todo o meu desgaste para subir o Villarrica: só lembranças boas. Por isso, decidi que manteria minha cabeça longe das dificuldades da trilha, das dores que sentiria, do sofrimento físico que certamente me atingiria.

Não quero entrar naquela lenga-lenga de palavras espirituais, conselhos de superação pessoal, dicas de auto-conhecimento, enfim, não quero entrar nesse terreno que não é a minha praia e onde posso me dar muito mal. Mas, de toda forma, não posso deixar de dizer que essa história de não me concentrar nos problemas e nas dificuldades realmente me ajudou, não só na questão da trilha, mas em quase tudo na vida. Nos diversos concursos públicos e vestibulares pelos quais passei, por exemplo, sempre evitei pensar nos concorrentes ou na dificuldade da prova. Concentrava-me no estudo e ponto final. Também não pensei muito para me casar, pois já estava havia muito tempo com a noiva, sabia que era boa pessoa, que eu gostava dela e isso me bastava. Qualquer pessoa que comece a pensar nos problemas do casamento nunca passará perto de um altar, porque realmente eles são muitos. O mesmo com filho. Se o sujeito pensar que o filho dará trabalho, que não o deixará dormir, que pode ficar doente, que pode se tornar um adolescente problemático, pronto, vai morrer sem descendentes. Melhor é se concentrar no sorriso da esposa, nas boas viagens juntos, na alegria dos filhos, nos momentos maravilhosos e simples em casa, nas brincadeiras à noite com as crianças, antes de dormir, enfim, melhor pensar nessas coisas. A gente precisa dominar a mente antes de tudo, acredite em mim. Para isso, às vezes é preciso iludi-la, concentrando-se apenas na parte boa das coisas, enquanto utiliza disfarçadamente as partes ruins para se preparar para elas, mas sem torná-las o centro da caminhada.
Tentei agir dessa forma com o Monte Roraima. Mas, como se descobre facilmente, as coisas na teoria sempre são muito mais fáceis do que na prática, especialmente quando estamos falando de dominar a mente para que ela não se acovarde diante da ideia de sofrer por seis dias em uma trilha rumo ao mundo perdido...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

018 - A escalada de um vulcão

Todo grande desafio pressupõe um bom controle mental. Além do corpo, a pessoa precisa treinar também a cabeça, pois ela é a primeira a sucumbir diante das adversidades. Os dois avisos sobre a parte física trouxeram um tanto bom de insegurança para mim quando eu os li, porque realmente eram assustadores para alguém sedentário como eu. A frequência de treinamentos sugerida dava a dimensão do desafio a ser enfrentado, pois pedia que caminhássemos o percurso de quase sete maratonas como preparação. As restrições a pessoas acima do peso e com problemas nas articulações também assustavam, principalmente levando em conta que o aviso falava de pessoas com dez ou quinze quilos a mais, indiretamente excluindo da trilha quem estivesse com sobrepeso acima disso.

Mas, não eram só esses dois avisos que me assustavam. Havia um terceiro:

* Lembrar de cortar as unhas dos pés, para evitar o atrito com o tênis na descida. Há inúmeros casos de unhas que caíram alguns dias depois da volta, por não terem tomado este cuidado.

Não inventei esse aviso, não mexi no seu texto. Ele veio assim mesmo, simples e direto: corte as suas unhas, porque senão elas vão cair depois da trilha. Que cacete de caminhada era aquela que ameaçava de morte as minhas pobres unhas? Se toda regra tem uma exceção, eu havia descoberto que a exceção à regra de que para baixo todo santo ajuda era justamente em relação às unhas. O jeito então era trabalhar a cabeça.

Uma subida que nunca terminava



Apreciando as belezas da Cordilheira dos Andes



Subida completada!



Descendo de "esquibunda"


A minha primeira providência foi não ficar pensando nas dificuldades da caminhada, nos riscos que ela poderia trazer e nas sequelas a serem deixadas. Eu tinha uma experiência na minha vida e me guiaria muito por ela. Falo da subida do Vulcão Villarrica, em Pucón, no Chile.

No final do ano de 2005, fiz com minha esposa uma maravilhosa viagem pelo Chile, país que aprendi a amar e a respeitar. Chegamos a Santiago, ficamos dois dias por lá e alugamos um carro, com o qual fomos primeiro para Viña del Mar e Valparaíso, cidades irmãs, mas totalmente diferentes. Mais dois dias no litoral e rumamos para o sul, parando aqui e acolá, visitando um amigo e sua família, até chegar a Puerto Varas, preciosidade às margens do lago Llanquihue e em frente ao estonteante vulcão Osorno. Curtimos bastante tudo por ali, sempre em um clima muito romântico, e depois pegamos a estrada para Santiago novamente, percurso que ainda contaria com uma parada de dois ou três dias em Pucón. Chegamos a essa cidade no final da tarde, após nos perdermos em atalhos fora da rodovia Panamericana, arranjamos uma cabaña para nela nos hospedarmos e no dia seguinte fomos conhecer um pouco das belezas naturais ali por perto. Foi então que entramos em uma agência de turismo e vimos diversos passeios na região, entre eles a subida do vulcão Villarrica. Tínhamos apenas mais um dia por lá e queríamos aproveitar o melhor do lugar, razão pela qual meus olhos brilharam diante da possibilidade de fazer aquele passeio tão diferente da minha realidade. Um pouquinho de conversa e eu já estava encantado: quando teria novamente a oportunidade de caminhar pela neve até o topo de um vulcão ainda em atividade, que ficava soltando fumacinha o tempo inteiro?

O problema era a minha esposa. O passeio duraria um dia inteiro, seria feita uma caminhada certamente cansativa e tudo o que ela mais gostava em viagens era de conforto, algo que não combinava com aquela proposta indecente.

– Es muy difícil? – perguntei ao rapaz da agência, que prontamente me explicou que dezenas de pessoas subiam o vulcão diariamente, inclusive idosos.

Encantado, mas já descrente da aprovação, perguntei à minha esposa:

– E aí, anima?

– Por mim, tudo bem – ela respondeu.

Sabe quando você não acredita no que acabou de ouvir? Pois foi o que aconteceu comigo. Tive que perguntar a ela ainda mais umas duas vezes para ter certeza de que eu não estava delirando. A minha esposa, tão delicada, tão bonita, tão apaixonada por lugares confortáveis e prazerosos, concordando comigo de subir um vulcão ativo até o seu topo? Minha reação instantânea foi de desconfiança. Depois de um tempo de casado, a gente, mesmo acreditando que o amor ainda existe e é forte, às vezes desconfia das coisas. Quando a esmola é demais até o cego desconfia – já dizia o ditado. O que será que ela queria em troca? Um filho não era, não estava nos planos dela. Dinheiro também não, porque ela trabalhava e tinha lá suas economias. Mais carinho? Mais atenção? Mais chamego?

Se a esmola é muita, o melhor a fazer é pegá-la logo e deixar para pensar no problema depois, porque senão corre-se o risco do doador desistir daquela loucura. Por isso, tratei logo de fechar o contrato com a agência, paguei cerca de sessenta dólares para cada um e combinei de estarmos lá no outro dia, antes das sete da manhã, para iniciarmos a aventura.

Foi o que fizemos. Na agência, nos deram uma roupa própria para a neve, diferente de tudo o que nós dois, bons brasileiros habitantes de um país tropical, tínhamos visto ou vestido na vida. Luvas, botas, capacete e uma machadinha, cuja finalidade seria logo explicada. Pegamos uma vã e seguimos em direção à estação de esqui no vulcão, desativada naquela época do ano porque estávamos em pleno verão. Eu continuava olhando a minha esposa desconfiado, sem conseguir entender o que tinha levado a moça a aceitar tamanha enrascada.

A caminhada foi difícil. Subíamos em zigue-zague, em fila indiana, um grupo de umas dez pessoas. Os passos eram dados no gelo, em degraus formados pelos contínuos grupos que passavam por lá. Na primeira parte da subida, a Rose reclamou demais e pensei que ela fosse desistir. Depois, quem passou a reclamar fui eu, com cãibras danadas que me assustaram muito e estiveram a ponto de me derrubar na lona. O pior de tudo é que o cume, que da base não parecia muito distante, aos poucos ia se afastando de nós de forma sacana. Quanto mais a gente andava, mais parecia que ele estava longe!

A recompensa era a vista. Em certo momento, ultrapassamos o nível das nuvens. Estava um dia lindo e, em meio à neve do nosso próprio vulcão, víamos ao longe os cumes brancos de inúmeras montanhas da Cordilheira dos Andes, uma visão magnífica que meus olhos nunca vão esquecer. A beleza estupenda da paisagem fez com que conseguíssemos finalmente chegar ao cume, em um honrado último lugar entre os mais de dez grupos que subiram o vulcão naquele dia. Demoramos, mas chegamos! Lá em cima, alcançamos as bordas da cratera, um local onde a neve estava derretida por razões óbvias. Dentro do buracão, três buracos bem menores, onde a lava se agitava intensamente e, a cada cinco minutos, voava alguns metros de altura, sempre acompanhada de um rugido esquisito e de uma fumaça bastante fedorenta. Enfim, um verdadeiro espetáculo! Para coroar toda a aventura, ainda descemos de esqui-bunda pela neve do vulcão, momento em que todo mundo voltou a ser criança e lembrou dos tempos dos tobogãs nos parques, só que ali com muito mais emoção e beleza.

Às seis da tarde, estávamos de volta a Pucón, em frente a uma farmácia, os dois arrebentados, loucos para comprar um relaxamente muscular e já decididos a ficar mais uma noite na cabaña.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

017 - A preparação física e mental

Na minha cidade natal, Uberlândia, há um belo parque chamado Parque do Sabiá. Nele, fizeram uma pista de caminhada com cerca de cinco quilômetros, que passa ao lado de lagos, de um pequeno zoológico, debaixo de várias árvores. Há também equipamentos para alongamento, lanchonetes com água de coco e outras coisas do gênero. Sempre cheio, principalmente nos finais de tarde, o Parque do Sabiá me viu algumas poucas vezes por lá, para fazer a famosa caminhada em sua pista. Mas, meu problema foi sempre a distância, já que a pista segue em boa parte de seu percurso as extremidades do parque e os atalhos não são muito convenientes, quando existem. Assim, se você deixou o seu carro em uma ponta do parque e começou o giro pela pista, provavelmente terá que completar os cinco quilômetros para poder ver seu carro novamente.
            
Venhamos e convenhamos: cinco quilômetros são quase uma légua, não é mesmo? Meu passo tem aproximadamente 79 centímetros, o que significa ter que dar mais de 6.320 passos para completar o giro no Parque do Sabiá. Quando caminhava de forma veloz por lá, atingia a incrível marca de 4,8 km/h, sinal de que não conseguia terminar a volta em menos de uma hora. Por essas e outras razões, sempre gostei de caminhar por lá, mas fui poucas vezes porque achava o percurso longo. Para piorar, já disse que sou de uma família sem muita tendência para engordar. Além disso, meus avós e tios nunca foram de ter pressão alta ou problemas no coração. Uma avó morreu aos 85 anos, um avô aos 92 e outra avó já ultrapassava a marca de 87 anos quando eu e o Gustavo decidimos fazer a trilha do Monte Roraima. Nenhum deles, apesar de toda essa longevidade, foi de fazer muito exercício físico. Então, qual o meu estímulo?
            
Em Porto Velho, também há um espaço para caminhadas, agradável mas não tão charmoso quanto o Parque do Sabiá. É a avenida Jorge Teixeira, em um espaço que vai do aeroporto da cidade até determinado ponto da avenida de duas pistas, cerca de dois quilômetros e meio depois. Uma das pistas sempre é fechada no final das tardes e é por lá que o pessoal queima as suas gordurinhas.
            
Também já havia caminhado nessa pista, cuja distância era só um pouco menor do que a do Parque do Sabiá. A frequência nunca fora grande pelos motivos citados e também porque Porto Velho é uma cidade muito quente, com muita chuva. Então, se não chove no final do dia, faz calor demais. Um verdadeiro paraíso para quem precisa de uma desculpa para não fazer uma caminhada!
            
O problema é que a lista de materiais que recebemos no começo de março trazia dois avisos muito importantes, os quais reproduzo na íntegra:

* Para pessoas com pouco condicionamento físico, recomendamos caminhadas de 10 km pelo menos 03 vezes por semana, de preferência 60 dias antes da viagem. Se for possível, opte por terrenos acidentados, e melhor ainda se puder levar uma mochila com uns 5kgs, para já ir adaptando o corpo à realidade da trilha.
* Pessoas que estejam acima do peso ideal (10 a 15 kg) convêm uma entrevista antecipada com o guia para avaliação. Pessoas que tenham problemas nas articulações (principalmente joelhos), somente com autorização médica e após entrevista. Qualquer outro problema de saúde torna-se imprescindível avaliação médica.
           
Pronto, começou mal!

Dilema nº. 01: se eu, que tinha por mascote um gato gordo que só mexia o traseiro para encher ainda mais a pança, não animava andar cinco quilômetros no Parque no Sabiá ou em Porto Velho, em terreno praticamente plano, como faria para efetuar todo aquele treinamento? Façamos as contas: 4,5 semanas por mês x 10 km x 3 vezes por semana x 2 meses = 270 quilômetros! Ou, traduzindo em passos, 341.772 passos para alguém do meu tamanho! Caramba! Essa distância significava dar mais de cinquenta voltas inteiras no Parque do Sabiá, um número que eu sonhava percorrer em toda a minha vida, não em dois meses. Mas, os problemas não eram só esses...
            
Dilema nº. 02: onde arrumar um terreno acidentado em Porto Velho, cidade em plena planície amazônica, lugar onde pouca gente sabe para que lado é para baixo e que lado é para cima? Porto Velho simplesmente não tem morro, unzinho sequer! No centro da cidade até que existem duas quadras levemente acidentadas, mas muito de leve, em um local absolutamente inapropriado para ficar caminhando. Imagine a minha pessoa, com uma mochila nas costas, indo e voltando em dois quarteirões, em meio a lojas populares, camelôs e vendedores de doces caseiros, por mais de uma hora? Dez quilômetros significavam sair de uma esquina, andar até duas seguintes e voltar, repetindo o trajeto vinte e cinco vezes. No mínimo, eu seria taxado de louco, razão pela qual nem cheguei a cogitar aquela hipótese absurda.
            
Dilema nº. 03: minha velha mochila, a qual pretendia levar na trilha, só chegaria às minhas mãos vinda de Minas Gerais duas semanas antes da viagem. Como eu faria para carregar peso nas costas sem a minha mochila? Impossível. Além disso, mesmo caminhando em um lugar no qual todo mundo vai no final da tarde praticar atividades físicas, não deixaria de parecer um jeca com a mochila carregada nas costas, enquanto todo mundo caminhava como gente normal, sem peso algum. Solução: ainda a ser pensada.
            
Dilema nº. 04: eu tinha só quarenta dias pela frente, ou seja, teria que andar os 270 quilômetros em menos tempo ainda, totalizando pelo menos 6,75 quilômetros todos os dias. Todos os dias?! Eu não tinha tempo para isso, não tinha disposição, ânimo, companhia, a chuva não deixaria, o calor acabaria comigo, enfim, como fazer para completar o treinamento recomendado em tão pouco tempo?
            
Ainda bem que Deus é bom e nem toda desgraça cai sozinha na cabeça de um pobre coitado de uma vez só. Em relação às recomendações seguintes, eu estava imune: não estava acima do peso e não tinha problemas nas articulações. Pelo menos isso me serviria de consolo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

016 - Viagem fechada

No mesmo dia em que meu amigo de Porto Velho jogou a toalha, liguei para o Gustavo. Certas coisas a gente fala por telefone e a notícia que eu queria dar não seria passada por e-mail. Fui sincero com ele, abri o jogo quanto à questão do valor, disse que estava achando caro e todo o resto que já contei aqui. Mas, como companheiro é companheiro e f.d.p. é f.d.p. (ouvi essa frase em um discurso de colação de grau de um curso de Direito, o que me deixou tão horrorizado que hoje vivo usando a mesma frase), fui direto:

– Gustavo, eu vou, mesmo que não consigamos mais outra pessoa.

No dia seguinte, o Gustavo já iniciou as negociações definitivas com a agência e conseguimos um desconto de dez por cento. Não era grande coisa, mas já aliviava um pouquinho o bolso e dava para pagar as diárias do hotel e as refeições em nossa passagem por Boa Vista. Mais um dia e já tínhamos em nossos correios eletrônicos três documentos enviados pela Makunaima: 1) roteiro detalhado da caminhada; 2) ficha de inscrição; 3) lista de material de uso pessoal necessário. No mesmo dia, fiz o depósito de cinquenta por cento do valor do pacote e mandei minha ficha de inscrição.

Voltar atrás agora só com prejuízos financeiros, pois nesses casos as desistências são sempre acompanhadas de multas. O jeito era convencer minha mente definitivamente sobre o que o corpo iria enfrentar, treinar esse corpo o minimamente possível para não fazer tão feio na trilha e, claro, começar os preparativos para a viagem.

Alexandre Henry
alexandre.henry.alves@gmail.com

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

015 - Em busca de mais um companheiro para a viagem

O duro é encontrar um companheiro para uma empreitada dessas. Se você fala que é um churrasco de graça na sua casa, regado a cerveja, aparecem dezenas de amigos samaritanos, prontos para te ajudar a levar a carne assada da churrasqueira para a mesa. Se você convida um amigo para passar uns dias na sua casa de praia, também não terá problemas de companhia. Mas, vá convidar alguém para se esfolar seis dias em uma trilha íngreme, a um custo igual a quase uma centena de idas a uma churrascaria? 

Sim, aparecem uns curiosos, gente que diz sempre ter sonhado com algo assim, gente para te dar a maior força, te estimular a fazer aquilo, só que na hora do vamos ver todo mundo fica só no incentivo mesmo e nas palavras de estímulo. É a velha história: todo mundo acha a criança linda, mas ninguém quer colocar o próprio nome no registro de nascimento dela! Sempre há uma desculpa para o sujeito te dar diante de um convite desses, todas seguidas de um lamento e da promessa sobre a ida em uma próxima vez, como se todo semestre você subisse uma montanha como o Roraima.

Até que tivemos alguns candidatos, mas o mundo estava conspirando para que ninguém mais fosse conosco. Cheguei a mandar mensagens para a lista nacional da minha associação, composta por mais de 1.500 colegas, mas nada de positivo voltou além de perguntas curiosas sobre a aventura.

Confesso que, nessa hora, eu pensei em desistir. Como já dito, em vários momentos eu me peguei cogitando a possibilidade de deixar aquela maluquice de lado e, quando a questão dos custos tocou fundo, eu realmente quase desisti. 

Sempre há grupos para o Roraima, ao menos dois por mês, mesmo nos meses de baixa temporada. Eu poderia me encaixar em um deles, talvez em outubro, durante minhas férias seguintes, mês em que o clima estaria até melhor e eu poderia atingir um grau de preparação física e mental mais adequado. Insistindo em ir em abril, seriam pelo menos mais R$ 700,00. Isso pegou pesado comigo, mesmo tendo o dinheiro. O problema é que ninguém quer gastar mais do que o necessário, mesmo se o seu orçamento comportar o valor extra.

Nos primeiros dias de março, já tínhamos definido o início da caminhada para 13 de abril, uma terça-feira, e o término para o dia 18, um domingo. Na mesma época, um colega de Porto Velho, minha maior esperança de conseguir mais um para a caminhada, jogou a toalha afirmando problemas no joelho e o alto custo da aventura. Ainda restava a esperança de que a própria Makunaima, a agência de Boa Vista, conseguisse alguém para fazer a trilha conosco. 

Esforços nesse sentido estavam sendo feitos, disse-me o Francisco, nosso contato na agência. Porém, faltando pouco mais de um mês para a partida, eu não tinha muita esperança. Se fosse um mês de férias, dezembro, janeiro ou fevereiro, por exemplo, nossas chances seriam maiores. Tem muita gente que marca as férias e, diante de uma possibilidade dessas, acaba animando de última hora e embarcando na aventura. Mas, pouca gente no Brasil tira seu descanso do trabalho em abril e, vários que fazem isso, já têm todo o roteiro das férias programado com muita antecedência. Em resumo, uma viagem cara como a nossa, que exigia não só dinheiro como preparação física e mental, não era algo para ser decidido em tão pouco tempo.

Sendo essa a realidade, eu tinha que tomar a minha própria decisão, até porque não estava sozinho e o Gustavo dependia de mim para fazer a trilha ou não. Era hora de bater o martelo ou sair da sala de leilão definitivamente.

Alexandre Henry
alexandre.henry.alves@gmail.com

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

014 - Os custos da subida do Monte Roraima*

Com a data da viagem praticamente definida, faltava arrumar mais gente para ir conosco. A conta era bastante simples*:


** Tarifas **
R$ 1.400,00
Grupo de 05 ou + pessoas
R$ 1.500,00
Grupo de 04 pessoas
R$ 1.600,00
Grupo de 03 pessoas
R$ 2.300,00
Grupo de 02 pessoas
R$ 2.900,00
Para 01 pessoa apenas

           
Éramos só dois até então e o preço ficava nos R$ 2.300,00. Um ser humano a mais que fosse com a gente já traria um desconto de R$ 700,00 para cada um, algo nada desprezível. É preciso ter em mente que uma viagem dessas é cara e qualquer redução de custos sempre é bem vinda. Em primeiro lugar, deve-se lembrar que os preços das agências de Boa Vista não incluem o deslocamento até lá, ou seja, você tem que cuidar do seu voo até a capital roraimense. Passagem aérea no Brasil é quase um estelionato, todo mundo sabe, embora o culpado nem sempre seja conhecido – altos impostos, preço dos combustíveis vinculado ao dólar, custo-Brasil etc. Imagine então uma passagem para a capital mais ao Norte do país, talvez uma das mais isoladas e distantes, ao lado de Macapá e Rio Branco. É uma verdadeira fortuna, com absoluta certeza. 

Em nosso planejamento de viagem, estávamos de olho nessa questão das passagens, tentando descobrir um jeito de não estourar ainda mais o orçamento e lembrando que, pelo menos naquele momento, só existiam dois voos diários para Boa Vista em aviões de grande porte: um pela Gol, durante a madrugada; outro pela TAM, durante o dia. Todos os dois com escala ou conexão em Manaus.


Fora o custo das passagens, ir para Boa Vista para a subida do Monte Roraima ainda traz outras despesas. A pessoa precisa pagar ao menos uma noite de hotel, caso pegue o voo diurno, ou duas, caso pegue o noturno. A explicação é bem simples. Segundo pesquisamos naquele mês de fevereiro, o voo da Gol chegava a Boa Vista no meio da madrugada. A partida para a trilha se dava às cinco da matina, com o transporte para Santa Elena de Uairém, na Venezuela, seguido de outro transporte até a comunidade indígena e caminhada logo em seguida. 



Na internet, tinha visto o relato de um grupo que havia feito essa proeza: chegaram no voo da madrugada e, três horas depois, já estavam a caminho da Venezuela. Resultado? Um deles simplesmente não deu conta de subir o Roraima. Então, se você chegar no voo da madrugada, vai ter que dormir aquele resto de noite no hotel e ainda pagar mais uma diária. Se chegar no voo da tarde, dá para pagar só uma noite de hospedagem, embora em sempre recomende passar ao menos um ou dois dias completos em Boa Vista para conhecer a cidade e as redondezas.



Mas, também não é só isso. Tem táxi, almoços, jantares, lanches. Claro, para quem é caminhante de primeira viagem, os custos podem subir exponencialmente: uma boa mochila, bota apropriada, capa de chuva, saco de dormir, isolante térmico, bastão para caminhada e por aí afora. Comprando tudo no Brasil, facilmente essa conta chegaria a R$ 1.000,00 quando estávamos planejando nossa viagem. A sorte é que eu já tinha algumas coisas, mas ainda assim arrumar mais um companheiro de viagem ajudaria demais a suavizar o bolso, afinal de contas, saber que os pés sairiam machucados daquela aventura bastava, não sendo necessário machucar também a carteira.



Alexandre Henry Alves

alexandre.henry.alves@gmail.com

* Os valores são de 2010 e, por isso, certamente estão muito defasados.