domingo, 20 de setembro de 2015

012 - A decepção com a Floresta Amazônica

Antes de mais nada, preciso adiantar, se é que você já não percebeu, que essa história tem muitos desvios para outras lembranças interessantes da minha vida. Mas, acredite: todas elas têm alguma coisa a ver com o Monte Roraima ou, quando não, pelo menos com aquele momento que eu estava vivendo.

Pois bem, vamos então a um assunto que me chamou a atenção naquele biênio de 2009/2010.

A maioria dos brasileiros conhece a Amazônia apenas pela televisão. Até 2009, eu estava entre essa maioria. Ao me mudar para Porto Velho, a menos de trinta minutos da divisa com o estado do Amazonas, pensei que conheceria enfim a grande floresta brasileira, motivo de tanta discussão na área ambiental. 



Estrada da Borracha? Mesmo chegando à cidade de Chico Mendes, o que se vê não é uma floresta, mas uma triste paisagem formada por muito desmatamento e áreas de pastagem.


Infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Embora morar em uma capital do Norte te deixe diretamente em contato com a cultura nortista, isso não significa que você terá conhecido a mítica Floresta Amazônica. Chegando a Porto Velho, por exemplo, você ainda verá um tantinho de árvore ao pousar no aeroporto da cidade. Se for até algum dos mirantes do Rio Madeira, também verá do outro lado um pedacinho de mata. Isso poderá acontecer da mesma forma em Rio Branco, Manaus e Belém. 

Não falo das duas outras capitais, Palmas e Boa Vista, porque nem sequer ficam em região de floresta tropical. As quatro citadas capitais que surgiram no meio da mata são hoje concentrações humanas urbanizadas, com poucos vestígios de mata na área povoada da cidade. Cidades como Porto Velho, por exemplo, ainda trazem o agravante maior de terem poucas árvores, o que só aumenta a sensação de que você em qualquer lugar do mundo, menos em volta da maior floresta do planeta.



Outra decepção foi o hotel Pakaas Palafitas Lodge, hotel supostamente de selva em Guajará-Mirim, na divisa de Rondônia com a Bolívia. O maior problema foi perceber que só havia uma faixa mínima de selva ao redor do hotel, coisa de metros, sendo que o restante era pasto. Certamente, isso não é culta do hotel, mas eu pensei que estava indo para um local realmente dentro da mata densa.




Guajará-Mirim, destino rotineiro após a mudança para Porto Velho em 2009, foi uma das pontas da famosa estrada de ferro Madeira-Mamoré, eternizada na minissérie Mad Maria, da Rede Globo.




Guararamerin é a cidade irmã de Guajará-Mirim, mas no lado boliviano. Muita pobreza e um comércio grande de produtos sem alíquota de importação, quase todos falsificações chinesas grosseiras.


Até janeiro de 2010, confesso que eu achava a Amazônia bem mixuruca. Sabe aquela imagens que você cria na infância, de uma selva formada por árvores gigantescas, cheia de mistérios e perigos? Pois era isso o que tinha em mente e, durante vários meses, foi tudo o que eu não encontrei. Tudo bem que Porto Velho não tinha nada de floresta dentro da cidade, mas peguei o carro então para ir a Guajará-Mirim, já na divisa com a Bolívia, e o que vi foi muito pasto e um arremedo de selva à distância. 

Aliás, da selva que consegui enxergar, não surgiram as imagens das árvores gigantescas do meu imaginário infantil. Vi árvores relativamente grandes, claro, mas não muito diferentes do que meus olhos costumavam ver nas descidas para a praia, quando topava com o restolho de Mata Atlântica que há no estado de São Paulo.

Maior decepção tive ainda quando fui a Rio Branco, no Acre, ainda no ano de 2009. Dirigindo um carro alugado, rumei para a cidade de Xapuri, onde viveu Chico Mendes, e depois para Brasiléia, divisa com a cidade boliviana de Cobija. Naqueles pouco mais de 200 quilômetros, eu esperava enfim encontrar a mais espetacular floresta da face da Terra, um mundo rico em tudo quanto era tipo de planta e bicho. 



As três visitas que fiz a Rio Branco, capital do Acre, entre 2009 e 2010, deixaram-me uma excelente impressão da cidade: charmosa e, em boa parte, muito bem cuidada.



Rio Branco, capital do Acre (2009).


Tristeza. Parecia que eu estava andando no meu devastado cerrado, no interior de Goiás: só fazendas de gado, criando nelores em sistema extensivo, uma imagem que mexeu com o Chico Mendes que há dentro de todos nós. Pior ainda foi ter visto plantação de cana-de-açúcar por lá, uma cultura importante para o Brasil, mas que deveria ser mantida a uma distância totalmente segura da região amazônica.

Minha última tentativa de encontrar a floresta foi numa tarde de domingo, quando cruzei de balsa o rio Madeira e andei alguns quilômetros na estrada que um dia já levou qualquer tipo de veículo a Manaus. Mesmo com algumas gotas pingando do céu, decidi entrar em uma estradinha de terra até chegar a uma mata que havia visto de longe. Ali, vi árvores relativamente grandes, encontrei uma pequena área alagada como tantas que vira na televisão, mas ainda não tinha encontrado a floresta das minhas imaginações de criança.

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