Pois é, mas o que o amor traz, o amor leva – dizia algum poema brega. Já adolescente, um nova namorada implicou com a academia e eu parei de fazer caratê. Só não engordei porque não tenho tendência para ganhar alguns quilinhos a mais facilmente. Mas, nos braços daquele novo amor, relembrei minha doce e suave infância, quando eu não fazia porcaria de exercício nenhum e vivia na paz e na tranqüilidade que só o sedentarismo pode proporcionar a um ser humano...
Não é falar que eu nunca lutei conscientemente contra a minha natureza. Durante meus anos de escola, participei de um campeonato interno de peteca, essa preciosidade das minhas Minas Gerais (sem medalha, é óbvio), de um torneio de futebol (na maioria dos jogos, eu ficava no gol, para não precisar correr) e também devo ter me arriscado perigosamente em alguma atividade como vôlei ou coisa parecida.
Por óbvio, nada foi para frente. Tirando aquela história do caratê, época na qual eu mexia meu corpo estimulado pelo coração, não pela inteligência, acho que Deus, ao me colocar neste mundo, deu dois tapinhas nas minhas costas e me disse: meu filho, você será um privilegiado, pois poderá passar praticamente toda a sua vida sem mexer esse traseiro preguiçoso e, ainda assim, não engordará feito um leitão antes do Natal!
O dever me chamou e eu tive que fazer uma disciplina de Educação Física, quando estudava na USP, em São Paulo. Escolhi caratê, claro. Pensei que seria um reencontro cheio de emoções e saudosismo, algo do tipo “agora a gente fica junto para sempre”. Ledo engano. Arrastei-me por aqueles cinco meses em que revi meu quimono, parecendo um ex-preso político que revê seu torturador depois de muitos anos. Cumpri a carga horária, claro, pois queria me formar na universidade, mas não estiquei um semestre sequer na ida ao tatame.
Na minha formatura em Publicidade & Propaganda na USP,
no início de 1998, eu continuava magrelo, mesmo sem fazer
exercício algum. Deus foi bom para mim nessa parte!
Pouco tempo depois, ainda em São Paulo, eu resolvi me preparar um pouquinho para uma viagem de mochila que faria para a Europa. Eu andaria um bom tempo pelo Velho Mundo e precisava desenferrujar meus músculos, para não passar vergonha e, quem sabe, até para aproveitar um pouquinho mais a viagem. Foi então que eu decidi me matricular pela primeira vez na vida em uma academia de musculação.
Sabe que eu até que não me senti muito mal? Claro, era um exercício anaeróbico e eu não precisava ficar todo esbaforido suplicando por um oxigênio teimoso que não queria chegar até meus pulmões. Confesso, para não ser taxado de mentiroso, que não colocava muito peso naquelas máquinas, porque meus músculos meio temperamentais poderiam dar birra de uma hora para a outra e não querer mais aquela história de musculação.
Na mesma época em que fiz musculação pela primeira vez, montei uma
banda de rock. Mas, ela não foi para frente por absoluta insuficiência
técnica, especialmente da minha parte!
Foi nessa época que descobri a única atividade corporal que até hoje realmente me deu prazer: aula de alongamento. Por certo que a bela professora e a classe recheada de integrantes do sexo feminino ajudava, mas ficar esticando as pernas, braços e tudo mais para lá e para cá dava realmente uma sensação de alívio e conforto. Em pouco tempo, eu ia para a academia muito mais pela aula de alongamento (e pela paisagem durante a aula) do que para puxar ferro.
Alexandre Henry
alexandre.henry.alves@gmail.com
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