Existem dois tipos de viagens: a que você escolhe o destino e a que o destino te escolhe. Na maioria das vezes, a gente decide que vai tirar férias e depois se põe a escolher o destino: praia, serra, visita a parentes, Disney, Europa, fazenda – para onde eu vou?
A escolha depende do tempo livre, dos desejos do momento e, principalmente, do bolso. Mas, há outro tipo de viagem, aquela na qual você descobre algum destino, fica cismado com ele, depois passa a encantado e então promete a si mesmo que um dia você vai lá, embora não saiba ainda quando isso acontecerá. Minha jornada rumo ao topo do Monte Roraima pode ser enquadrada nessa última categoria, sem sombra de dúvida.
A escolha depende do tempo livre, dos desejos do momento e, principalmente, do bolso. Mas, há outro tipo de viagem, aquela na qual você descobre algum destino, fica cismado com ele, depois passa a encantado e então promete a si mesmo que um dia você vai lá, embora não saiba ainda quando isso acontecerá. Minha jornada rumo ao topo do Monte Roraima pode ser enquadrada nessa última categoria, sem sombra de dúvida.
Já viajei muito por esse mundo afora, principalmente na América do Sul, perpetuando uma prática familiar. Não somos uma família de nômades, não temos o costume de ficar pulando de galho em galho, morando aqui e acolá, mas a gente gosta de uma estrada, se gosta! Nada profissional, tudo muito amador, vou logo avisando. Não tenho primos que escalaram o Everest, tios que fizeram a travessia do Atlântico a vela ou irmãos que dormiram em casas de nativos da Mongólia.
Somos gente simples, com hábitos simples, quase todo mundo um pouquinho sedentário, ninguém com muita grana, enfim, somos brasileiros comuns, com uma única característica: gostamos de viajar, ainda que seja para visitar um parente na cidade vizinha. Sabe essa coisa de pegar a estrada, de arrumar uma mala, de encarar o sacolejo de um ônibus ou o apertume de um avião? A gente adora isso!
Somos gente simples, com hábitos simples, quase todo mundo um pouquinho sedentário, ninguém com muita grana, enfim, somos brasileiros comuns, com uma única característica: gostamos de viajar, ainda que seja para visitar um parente na cidade vizinha. Sabe essa coisa de pegar a estrada, de arrumar uma mala, de encarar o sacolejo de um ônibus ou o apertume de um avião? A gente adora isso!
Em 2000, viagem solitária aos EUA, quando as Torres Gêmeas ainda estavam de pé.
Tenho um tio que já foi a uma porção de Copas do Mundo: México, Alemanha, Argentina, Coréia do Sul, Japão, Itália, Espanha... Se não tem futebol, ele viaja assim mesmo. Um primo fez a trilha de Macchu Picchu duas vezes. Meu avô só foi viajar para o exterior com quase 70 anos de idade, pois sempre foi muito pobre e não tinha condições de bancar uma aventura desse porte. Mas, na primeira vez que viajou (com a ajuda dos filhos) gostou tanto que, só de teimosia, viveu até os 92 anos, acho que só para poder ficar viajando. Com quase 90, ainda teve energia de ir para os Estados Unidos. Menos de um mês antes de morrer, estava viajando.
Os parentes que não têm grana para cruzar a fronteira não ficam em casa. Viajam sempre que dá, nem que seja uma excursão rodoviária para sair de Minas e ir até a praia uma vez por ano. Aliás, a praia sempre foi a melhor desculpa para o mineiro viajar. Quem é carioca pode passar a vida inteira sem sair da cidade e ainda assim ter a sensação de ter feito turismo boa parte da sua existência. Tudo bem que mineiro tem Ouro Preto e as outras cidades históricas, mas a ausência do mar é sempre a melhor desculpa para pegar a estrada.
Eu fiz isso quando ainda era moleque novinho e meu pai foi trabalhar em Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Só que aí foi uma viagem de mudança, não de turismo. Independente disso, acho que comecei a gostar da estrada nessa época, quando não tinha nem entrado na escola. Para visitarmos nossos parentes na cidade natal, Uberlândia, a gente tinha que rodar mais de 2.000 quilômetros na época, em uma Variant azul que não devia passar dos 80 km/h.
Avião? Não tínhamos dinheiro para isso e nem por isso a gente ficava triste. A viagem sempre começava de madrugada, coisa do meu pai, que gostava de sair antes do sol nascer. Quem conheceu esse carro, a Variant, sabe que ele tinha o porta-malas na frente e o motor na parte traseira. Sobre o motor, havia um espaço livre, onde também se podia colocar malas. No caso, não as malas, mas os malas: eu e meu irmão mais novo. O mais velho ia sozinho no banco traseiro, de passageiros. Sob um colchão ou qualquer coisa desse tipo, os dois menores eram colocados ainda dormindo no carro e o sono continuava até depois do dia amanhecer, embalado pelo calorzinho que saía do motor. Claro, saía um barulhão tremendo também, acho que a única razão de hoje eu não ter uma boa audição, já que nunca fui de escutar música em altíssimo volume.
Tudo bem, essa parte a gente pula. O que interessa é que passávamos os dias de viagem ali na traseira daquele carro, brincando, olhando a paisagem, às vezes descendo para conhecer cidades como Gramado e Canela, no Rio Grande do Sul. Minha mãe era pintora e mais de um quadro sobreviveu dessa época, retratando paisagens por ela registradas nas rodovias que pegávamos. Bons tempos. Pena que minha memória ainda em formação não registrou muita coisa.
Avião? Não tínhamos dinheiro para isso e nem por isso a gente ficava triste. A viagem sempre começava de madrugada, coisa do meu pai, que gostava de sair antes do sol nascer. Quem conheceu esse carro, a Variant, sabe que ele tinha o porta-malas na frente e o motor na parte traseira. Sobre o motor, havia um espaço livre, onde também se podia colocar malas. No caso, não as malas, mas os malas: eu e meu irmão mais novo. O mais velho ia sozinho no banco traseiro, de passageiros. Sob um colchão ou qualquer coisa desse tipo, os dois menores eram colocados ainda dormindo no carro e o sono continuava até depois do dia amanhecer, embalado pelo calorzinho que saía do motor. Claro, saía um barulhão tremendo também, acho que a única razão de hoje eu não ter uma boa audição, já que nunca fui de escutar música em altíssimo volume.
Tudo bem, essa parte a gente pula. O que interessa é que passávamos os dias de viagem ali na traseira daquele carro, brincando, olhando a paisagem, às vezes descendo para conhecer cidades como Gramado e Canela, no Rio Grande do Sul. Minha mãe era pintora e mais de um quadro sobreviveu dessa época, retratando paisagens por ela registradas nas rodovias que pegávamos. Bons tempos. Pena que minha memória ainda em formação não registrou muita coisa.
Depois de nos mudarmos novamente para Minas Gerais, as viagens não pararam. Praticamente todos os anos, lotávamos o carro de meninos e bagagens e íamos para o litoral, como bons mineiros: Ubatuba/SP, Marataízes/ES, Porto Seguro/BA e por aí adiante. Aos dezessete, fui fazer faculdade na capital paulista e nem por isso minhas viagens se restringiram ao roteiro Uberlândia – São Paulo: visitei muita cidadezinha ali perto da megalópole, peguei um sol em Maresias, Boiçucanga, Ilhabela, São Sebastião, fui para Campinhas, Sorocaba, Santos, Praia Grande, passei um final de semana em Londrina, no Paraná, enfim, fiz um bom giro pela redondeza, com algumas esticadas mais distantes.
Em 1998, exausto depois de dirigir 10 horas de Campos do Jordão até minha cidade em Minas Gerais, chegar, tomar banho, ir direto para a rodoviária, pegar mais de 12 horas de ônibus para Campo Grande/MS e outras tantas horas até Corumbá, em uma odisseia rumo a Machu Picchu (que não deu certo). Na foto, após essas 36 horas de deslocamento, no hotel de Corumbá.
Mas, meu entusiasmo decolou definitivamente quando o primo do Serjão, colega com que dividia o apartamento em Sampa, passou dois dias por lá antes de seguir para um mochilão pela Europa. Além de ouvir a empolgação dele, também fiquei com o livro “Uma aventura legal”, de Sérgio Motta, no qual o autor narrava uma viagem muito maluca por 24 países da Europa e da África, gastando migalhas por dia. Devorei aquelas páginas avidamente e logo meu cérebro começou a ruminar uma aventura parecida, embora certamente mais rápida e não tão espartana. Sem perceber, ao terminar a última página eu já tinha formatado meu cérebro para me transformar em um viajante convicto. Mas, outra hora eu conto sobre minhas peripécias pelo Velho Mundo...
Chegando a Barcelona, em 1997, após uma noite no trem desde Madri, encontrei uma turma que havia varado a noite em uma despedida de solteiro. Acabei me juntando a eles por alguns instantes! (na foto, sou o terceiro, da esquerda para a direita, em pé)
Pulando um pouquinho no tempo, para não ficar chato, voltemos a falar do Monte Roraima. Eu já tinha escutado esse nome, mas não tinha muita noção do que significava. Óbvio que deveria ser uma montanha e se localizar em Roraima, no norte do Brasil. Ponto final. Não sabia mais nada. Até que um dia, viajando pelo Chile, um dos meus destinos preferidos, eu conversava com um gringo quando fiz a clássica pergunta:
- Você conhece o Brasil?
- Já entrei rapidamente no país, pelo Monte Roraima.
Pronto, eu já tinha mais uma informação: a tal montanha ficava na divisa do Brasil com algum vizinho, provavelmente um daqueles três países que pouca gente sabe se são países mesmo ou se ainda são colônias - Guiana, Suriname e Guiana Francesa - , ou então a Colômbia ou a Venezuela. Confesso que não me preocupei em olhar no mapa, mas o nome Monte Roraima ficou azucrinando a minha cabeça.
Alexandre Henry
alexandre.henry.alves@gmail.com
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